Publicação de Reinaldo Azevedo foi após choro de Rogério Marinho por golpistas
O colunista da Folha de São Paulo e UOL Reinaldo Azevedo chamou o senador potiguar Rogério Marinho (PL) de “farsa do avô” Djalma Marinho após a cena de choro durante audiência pública realizada no Senado nesta quinta-feira 13. O motivo da emoção, segundo ele, foi pensar nas pessoas que estão presas pela tentativa de golpe com atentado Congresso Nacional em 8 de janeiro.
O senador do RN chegou a ser consolado pelo senador Magno Malta (PL-ES) e pelo pai, Valério Djalma Cavalcanti Marinho, que o acompanhava na audiência.
Reinaldo Azevedo disse que sentiu vergonha alheia após assistir a audiência. “Raramente me senti tão constrangido ao me imaginar na pele de outro. Marinho perdeu as noções de limite, ridículo e compostura”.
“Comoveu-se ao pensar nos golpistas que estão atrás das grades. Que fofo! Não consta que este senhor tenha derramado uma miserável lágrima pelos mais de 800 mil encarcerados no país — 40% sem sentença com trânsito em julgado. Durante a pandemia, quando seu chefe político aderiu à necropolítica, o número passou dos 900 mil. Trata-se da terceira maior população carcerária do mundo. Boa parte está confinada em masmorras, muito longe das condições salubres em que se encontram os que tentaram pôr fim à democracia, sob o silêncio cúmplice de gente como… Rogério Marinho”.
Reinaldo Azevedo disse que o momento foi “nauseante” para o Parlamento brasileiro. “O fiel servidor de um fascistoide golpista, que passou quatro anos tentando golpear a democracia e optou pela política da morte no na ‘parceria’ com a pandemia, passou, então, a falar como um militante da resistência numa França ocupada pelos nazistas”.
Reinaldo chama Marinho de “caricato extremista de direita”
Para o colunista, o senador deixou claro que suas “concepções de liberdade de expressão e imunidade parlamentar abrigam práticas e discursos criminosos”.
E continuou: “Marinho é um rascunho malfeito de militante liberal. Ele se refere ao discurso proferido pelo deputado Márcio Moreira Alves no dia 2 de setembro de 1968, denunciando tortura e pregando que as moças boicotassem a festa de formatura de militares. A ditadura exigiu que a Câmara desse licença para que fosse processado. O então presidente da CCJ, Djalma Marinho, avô de Rogério, que pertencia, note-se, à Arena, o partido da ditadura, não se vergou. O neto deveria se lembrar do que disse seu avô, citando o poeta espanhol Calderón de la Barca: ‘Ao rei tudo, menos a honra'”.
Para ele, Marinho se tornou um “caricato extremista de direita”. “Em defesa de quem, mesmo, discursava este senhor tão distinto? Dos golpistas que promoveram o mais violento ataque da história às instituições em tempos democráticos. Seu avô, apoiador do golpe de 1964, resistiu a ser mero esbirro de uma tirania e disse: ‘A honra não’. O neto topa ser escora da extrema-direita, ainda que custe a honra. Ou o que dizer um senador que não hesita em marcar os vulneráveis como alvos numa fala ‘em nome da liberdade’?”.
“Cabe a síntese: ao chamar a memória de Djalma Marinho, parece ambicionar a repetição da história. Ela se repete? Ah, é irresistível citar um certo Karl Marx: ‘Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.’ Rogério é a farsa de Djalma”, finalizou Reinaldo.
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