Peça está em cartaz no Teatro Glauce Rocha
Rio - Quando era criança, no município de Ipueira (segundo menos populoso do RN), Junior Dantas queria viver um príncipe na peça do colégio. "Minha professora disse que eu não podia, já que eu não era louro e não tinha olhos claros", lembra o ator, que na época não conseguiu o papel, mas que desde sábado protagoniza 'O Pequeno Príncipe Preto', em cartaz até 29 de julho (sábados e domingos, às 16h), no Teatro Glauce Rocha, Centro do Rio. "Não guardo rancor. Só que na minha cabeça não tinha diferença da cor. Toda criança pode ser tudo que ela quiser", defende.
MONTEIRO LOBATO
Dantas, hoje com 37 anos, conta que desde aquela época sempre sentiu falta de representatividade nos heróis ou personagens nas histórias. "Na obra de Monteiro Lobato tem o Saci-Pererê, com uma perna, que fuma cachimbo e faz coisas ruins. Ou a Tia Nastácia, que fica servindo na cozinha e em alguns momentos passava por situações preconceituosas. Os super-heróis eram americanos. Desde criança me questionava, e nenhum deles se parecia comigo", afirma. Cansado dessa falta de identificação, anos depois, o ator conversou com Rodrigo França (que assina o texto e o roteiro do espetáculo) sobre seus questionamentos e falou do seu antigo sonho e também posicionamento. O livro 'O Pequeno Príncipe', obra do escritor e ilustrador francês Antoine Saint-Exupéry ("Em abril, completou 75 anos que o livro foi publicado", diz Dantas) era que melhor se encaixava. Depois de muita pesquisa e ver várias versões de 'O Pequeno Príncipe', sejam animações ou filmes, a dupla chegou ao atual projeto.
ADAPTAÇÕES
"Na história original, a árvore Baobá (originária da África) está inserida na história como uma praga, que crescendo irá destruir o planeta. Mas na nossa peça, a árvore é a melhor amiga do Príncipe, que quer percorrer outros planetas para espalhar a semente da empatia, amor e da amizade", diz. "O nosso espetáculo fala sobre diversidade, tons de pele, ancestralidade. É uma peça sobre todas as cores, todas as crianças são bem-vindas. Quem nunca passou por bullying? É um espetáculo de empoderamento. As crianças saem felizes com a cor que têm, com o cabelo que têm e o nariz também. Os adultos saem muito emocionados", entrega, com orgulho.
PLATEIA
O intérprete explica que, ao contrário do que se imagina, o comportamento dos pequenos espectadores é exemplar. "Não ouço barulho, nem mexem no celular", cita Junior, feliz da vida. Antes da estreia, a produção teve ensaio na Pavuna (na Zona Norte do Rio), Recife (PE) e Campina Grande (PB). "Minha família, que mora no Rio Grande do Norte na divisa com a Paraíba aproveitou que estava em Campina Grande para ir em peso ver a peça. Ficaram muito felizes", diz Dantas, que a cada apresentação é acompanhado por três músicos que tocam ao vivo. "A música é um espetáculo à parte", derrete-se.
Junior afirma que tem recebido diversas mensagens de várias partes do país pedindo uma turnê nacional. "Estamos entrando em contato e vendo as possibilidades. Mas é uma vontade fazer uma turnê. E quem sabe uma internacional? Nada é impossível", torce o ator, animado.
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