quarta-feira, 8 de abril de 2020

DINASTIAS DO HORROR

Dinastias do Horror - A Longa e terrível história do Egito dos Mythos


Se existe no mundo um lugar que seja ao mesmo tempo misterioso e fascinante, belo e perigoso, esse lugar é sem dúvida o Egito.

Nenhuma outra nação do mundo consegue invocar sobre si semelhante aura de magia. Envolto por milênios de história, por tradições imortais, costumes exóticos e crenças ancestrais, o Egito é uma terra de segredos. Lar de uma notável civilização que parece deter o poder de nos surpreender com seu modo de vida, sua sabedoria e seus conhecimentos.

O Egito sempre foi uma Terra enigmática. Embora arqueólogos, estudiosos e cientistas se inclinem sobre suas grandes façanhas há tempos, a verdade é que ainda sabemos apenas uma fração a respeito de suas realizações. Escondido nas areias, há muito mais aguardando ser descoberto e devolvido à superfície.

No Universo do Mythos de Cthulhu, a importância do Egito é considerável.

Se um dia existiu um lugar tocado pelo Mythos, este foi o Antigo Egito. Em seu território coberto por desertos inóspitos e oásis luxuriantes, rios caudalosos e deltas verdejantes, habitou um povo que parecia estar em contato direto com Deuses e Demônios de outras esferas além do Tempo e Espaço.

Em sua homenagem, habilidosos arquitetos idealizaram inacreditáveis monumentos de pedra, erguidos pelo labor de milhares de escravos comandados sob o estalo de chicotes. Eram construções de engenhosidade nunca vistas na face do planeta, erigidos com o propósito de honrar as divindades e elevar o espírito humano. Milhares de anos depois de edificados, continuam lá, desafiando o tempo. Eles são como um testemunho da capacidade de realização humana, mas também uma demonstração de força, opressão e devoção cega.

A história obscura dessa região se inicia muito antes dela assumir o nome Egito.         

Há cerca de 17,000 anos atrás, o Reino mítico da Estígia foi fundado. Ele foi fortemente influenciado pela cultura do Povo Serpente que migrou da escura Valúsia, devastada por um cataclismo. O Povo Serpente ensinou a uma casta elevada de humanos que se tornariam Reis os seus costumes e tradições. Mais do que isso, compartilharam seus rituais e magia. Sacerdotes e feiticeiros serviam ao Deus Serpente Set. Nos templos com colunas e pilares de basalto, nas câmaras profundas e escuras, sacrifícios eram realizados impunemente. Nós podemos apenas agradecer por não existir mais nenhum bruxo da antiga Estígia andando entre nós, pois se houve um tempo no qual homens comungaram intimamente com horrores inenarráveis, foi este. Quase todos os artefatos dessa Era obscura foram destruídos ou estão perdidos, mas de tempos em tempos, algum tesouro ressurge para nos recordar desse período horripilante.

A magnífica Estígia foi destruída, vítima de novos cataclismos, rebeliões e de sua própria sede de poder. Seus templos, palácios e cidades desapareceram, mas de suas cinzas ergueu-se um novo Império supostamente livre da mácula de seus antepassados. Chamaram esse novo Reino de Khem, e enorme foi sua influência sobre o mundo.

Orgulhoso e majestoso, o Reino de Khem despontou como uma das grandes nações do Mundo Antigo, conquistando seus vizinhos e os submetendo ao seu poder. Mas ele estava condenado desde o início. Novas monstruosidades desceram das estrelas e se aninharam aos pés do Trono Imperial de Khem. Elas se entranharam na Família Real e no seio dos clãs aristocratas, contaminando seu sangue com o germe da loucura e adoração ímpia.

Cerca de 12,000 anos atrás, uma batalha mística foi travada, ninguém mais sabe por quais razões. Diferentes facções de feiticeiros colidiram quando seus interesses falaram mais alto e ambições foram alçadas às alturas. No fim, o Reino acabou varrido por esse feudo sangrento e as terras férteis foram devastadas. O que restou se transformou em deserto e desolação.

O Velho Egito nasceu das cinzas de Khem. 

Em um determinado momento, ele também parecia limpo da influência pérfida do Mythos. O povo altivo do Delta do Nilo formou uma Civilização avançada, mas o progresso acabou atraindo uma vez mais a atenção dos horrores que observam além dos umbrais. Homens ouviram as palavras sussurradas além do portal e convidaram esses seres profanos a se aproximar. 

Os Faraós foram responsáveis por erguer o Egito Antigo, mas haviam Dinastias malignas interessadas em reviver os antigos costumes. O mais temível deles foi Nephrem-Ka, que se tornaria conhecido como o Faraó Negro. Muitos estudiosos concordam que ele foi o último Faraó da Terceira Dinastia. Conta a lenda que Nephrem-Ka era um poderoso feiticeiro, o maior de todos os Reis-Bruxos que governaram a Terra do Nilo.

Ele trouxe de volta das sombras os Deuses da quase esquecida Estígia, reerguendo templos em escombros e abrindo as ruínas proibidas que haviam sido reclamadas pelas areias do deserto. De seu interior pérfido resgatou estátuas monstruosas, papiros com conhecimento perdido e artefatos perigosos da Estígia e de Khem. Seu pacto com as trevas foi assinado na Cidade Perdida de Irem onde ele teve o primeiro contato com os Deuses de outrora. É creditado a ele ainda a descoberta do Trapezoedro Brilhante, um artefato de eras anteriores ao próprio homem. 

Nephrem-Ka foi o responsável por invocar uma vez mais aquele que seus sacerdotes chamavam de "A Grande Fome que habita o Vazio", um dos antigos nomes de Nyarlathotep. Após invocar o Caos Rastejante, o Egito, para sempre estaria associado a ele. Interessado nas inúmeras possibilidades oferecidas por nossa espécie, o Deus Exterior atendeu à súplica do Faraó Negro e abriu os portais. Com pompa e circunstância retornou à Terra e após sua chegada nada mais seria como antes.

Sua vinda mudou o Egito, e não é exagero algum afirmar que a história humana foi alterada para sempre pela sua presença. Seus lábios sussurraram magias e portentos para os que desejavam ouvir. Suas mãos trouxeram presentes aterradores. De sua adoração adveio a tragédia e o genocídio sem igual.   

Houve grande medo entre o povo do Egito em face dessas transformações, e isso incitou a população a se revoltar. No fim, Sneferu, o fundador da Quarta Dinastia que recebeu as bençãos da Deusa Isis, prevaleceu sobre o Faraó Negro. Nephrem-Ka tentou escapar na direção da Costa onde ainda contava com aliados. Mas seus adversários o alcançaram próximo de onde hoje se encontra o Cairo. O Faraó maligno e seus seguidores foram passados no fio da espada e seus restos enterrados em local ignorado afim de que fossem esquecidos.

Uma das primeiras medidas de Sneferu foi ordenar que o nome do Faraó Negro fosse apagado de todos os registros. A ordem foi cumprida e muitos monumentos foram transformados em pó para que com eles o nome do Faraó também sumisse. Mas apesar dos esforços, ele não foi totalmente esquecido. Alguns lembravam do Faraó Negro e temiam o seu nome. Com o tempo, alguns passaram a considerar que ele e seu patrono, Nyarlathotep, fossem até a mesma entidade.

Há também rumores de que alguns servos devotados de Nephrem-Ka se voluntariaram para ser enterrados com seu mestre. Eles foram sepultados na tumba ainda vivos. A entrada foi então lacrada com os selos de Sneferu. Os seguidores teriam talhado nas paredes internas da tumba a história de seu mestre, aguardando que alguém descubra esse lugar maligno e torne o nome do Faraó Negro conhecido uma vez mais. Segundo alguns, quando a tumba for encontrada, as palavras contidas nessas paredes servirão para despertar o Faraó Negro o que dará início a uma nova dinastia de poder e feitiçaria.

Depois que Nephrem-Ka foi destronado, as areias do tempo continuaram escoando através da ampulheta e o Egito continuou se transformando. Nyarlathotep aos poucos foi se afastando e partiu em busca de outros territórios onde pudesse plantar as sementes de seu irrefreável Caos. Contudo, ele jamais se afastou inteiramente do Egito e sua presença lança uma sombra sobre a Terra dos Faraós.


O Faraó Negro não foi o único governante do Delta do Nilo a lavar o deserto com sangue. Na história obscura do Antigo Egito figuram ainda outros personagens abomináveis.

Digna de destaque é a pérfida  Rainha Nitocris, em cujas veias corria o sangue dos carniçais. Ela governou o Egito na Sexta Dinastia e sob seu jugo, os Devoradores das Profundezas se fartaram, roendo avidamente os ossos dos mortos e devorando a carne dos inocentes. Nitocris tinha uma notável habilidade como feiticeira e como tal, construiu artefatos que ainda existem e que aguardam serem descobertos nas profundezas das tumbas onde foram deixados.

Mesmo o Grande Faraó Akhenaton, cujos feitos persistem na história flertou com o poder do Mythos. Durante a Oitava Dinastia, Amenhotep IV (que depois adotaria o nome Akhenaton) teria invocado o espírito de Nephrem-Ka e este o instruiu a patrocinar a criação de uma Seita secreta. Estes seguidores fiéis chamavam a si mesmos de Irmandade do Faraó Negro e juravam eterna lealdade a ele. A confraria nasceu no Egito, mas ganhou força depois de se instalar nos pântanos ao sul, no atual Sudão.
O Alto-Sacerdote Nophru-Ka viria muito mais tarde na XIV Dinastia. 

Os primeiros que identificaram sua influência o chamaram de Profeta Louco e tentaram repelir suas palavras eivadas de maus agouros. Mas ele conseguiu conquistar cada vez mais influência em uma Sociedade que batizou A Irmandade da Besta. Suas palavras doces atraíram milhares de homens que formaram legiões de fanáticos dedicados a incendiar o Egito nas chamas da adoração cega. Ele promoveu muita destruição, conjurando para nosso mundo hostes de Horrores Caçadores vindos das estrelas; além de outras coisas nefastas que voavam, corriam e se arrastavam pelas areias. Muito sangue foi derramado na infame rebelião de Nophru-Ka que muitos acreditavam ser a encarnação do Faraó Negro. Como tal, ele planejava retomar o Culto de Nyarlathotep.

Felizmente, o Faraó que estava no poder, enviou assassinos para rastrear o paradeiro do Profeta e exterminá-lo. Nophru-Ka foi degolado enquanto meditava diante de um altar profano imerso em sonhos produzidos pela lótus negra. Seus seguidores desmoralizados membros da Irmandade da Besta partiram em um auto-exílio que os levou até as ruínas de G'harne no Mali. Lá essa linhagem profana ainda existe e segundo profecias está fadada a promover o Fim dos Tempos para vingar seu mestre e senhor.

Em tempos "mais recentes", o Egito perdeu parte de sua preponderância e foi suplantado por povos e culturas diversas. Os gregos, os romanos, os povos da Europa conquistaram a orgulhosa Terra dos Faraós e enfim conseguiram submetê-la à sua vontade. Como diz o ditado "todos poderosos, um dia tombam" e com o Majestoso Egito não foi diferente. Mas será que alguém realmente é capaz de se julgar Senhor dessas terras? 

Com o tempo, a influência do Mythos também parece ter se arrefecido.

O Egito não é mais uma Nação governada pela palavra dos antigos. Entretanto, engana-se quem pensa que eles se foram ou que sua influência nessas paragens terminou. Ao que parece, essa porção do planeta jamais perderá a importância para essas entidades e é provável que, no dia em que decidirem tomar o que é seu por direito, seja lá que sua conquista terá início.

A nós cabe esperar, e temer...

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