Ainda recentemente os cientistas acreditavam que a Terra não tinha análogos fora do Sistema Solar. Entretanto, graças às duas missões da NASA, ou seja, ao telescópio Kepler e à sonda Dawn, estas suposições foram descartadas.
Assim, de acordo com William Borucki, primeiro cientista chefe da missão Kepler, o aparelho virou do avesso as suas ideias sobre o que está além do Sistema Solar. Hoje em dia, se sabe que o número de planetas na nossa galáxia é maior que o de estrelas.
Até o fim do século passado, a imagem da galáxia era muito simples. Os astrônomos acreditavam que nela havia bilhões de estrelas, alguns buracos negros, nebulosas de gás, bem como milhares de pulsares e outras estrelas "queimadas".
A ausência de evidências sobre outros mundos fazia os astrônomos pensarem que as condições no Sistema Solar eram de tal maneira únicas que acarretaram o aparecimento de nove planetas ao mesmo tempo.
Entretanto, no fim do século os cientistas inesperadamente acharam uma anomalia estranha nas cercanias do pulsar PSR B1257+12, na Constelação de Virgem. A investigação posterior mostrou que a fonte dessas anomalias eram dois planetas rochosos que rodeavam o pulsar.
Esta descoberta colocou perante os astrônomos toda uma série de perguntas novas: quantos planetas tem na Via Láctea? Será que existem diferenças entre os planetas das estrelas comuns e dos pulsares? Como apareceram estes corpos celestes e será que há vida neles?
Ciclope espacial
Os métodos antigos de pesquisa espacial, que se baseavam em pequenas variações no espetro de cintilação estelar ou na frequência de iluminação dos pulsares, eram pouco adequados para buscar novos exomundos. Mas depois, graças aos computadores e novas tecnologias, os cientistas inventaram um novo método — chamado "de trânsito", que aumenta extremamente a velocidade e a cobertura territorial de tais descobertas.
Trata-se não apenas de computadores mais potentes, mas também de sensores de imagem supersensíveis e supercompactos, capazes de funcionar no espaço — para capturar o brilho das estrelas distantes, que diminui um pouco quando seu disco é percorrido por um ou vários planetas. Estes casos são difíceis de serem fixados, mas o potencial enorme dos computadores modernos ajuda a fazê-lo.
Foi isso que fez o Kepler, posto em serviço em março de 2009, sendo de fato uma câmera enorme feita de 42 sensores de imagem totais. O volume total dos dados coletados foi tão grande que o telescópio conseguiu enviar apenas 5% deles à Terra no regime de transmissão ao vivo.
Em todo o período do seu funcionamento, que acabou em outubro do ano corrente, o telescópio, chamado de "caçador de planetas", analisou ao menos 530 mil corpos celestes.
Sombra de mil planetas
O que Kepler conseguiu descobrir? De fato, revelou que quase todas as ideias dos astrônomos sobre a aparência dos planetas e seu número em geral eram erradas.
Primeiro, frisou Borucki, até os primeiros anos de funcionamento do aparelho mostraram que na galáxia existem bilhões de planetas, e, de acordo com as avaliações existentes da NASA, na Via Láctea o número deles é ainda maior que o das estrelas. Assim, ao longo dos 9 anos de trabalho, o Kepler encontrou cerca de 5.500 "candidatos" ao papel do planeta, inclusive dezenas de análogos da Terra, que ficam dentro da "zona vital". Aproximadamente metade deles hoje em dia é reconhecida como verdadeiros exoplanetas.
Segundo, a investigação mostrou que os exomundos parecidos com a Terra são muito mais frequentes em nossa galáxia do que os cientistas costumavam pensar. No entanto, esses planetas são de fato "super-Terras", ou seja, 3-4 vezes mais pesados que o nosso planeta, e ainda temos pouco conhecimento sobre sua estrutura, composição e características.
A terceira surpresa foi a zona de localização destes planetas — a maioria deles fica em sistemas estelares duplos ou até triplos, uma espécie de análogo do Tatooine, universo inventado da película Guerra nas Estrelas.
O telescópio achou também várias outras famílias de planetas exóticos, que solaparam significativamente a crença dos cientistas em relação ao caráter único do nosso Sistema Solar. Um desses sistemas, por exemplo, chamado Kepler-90, consiste de oito grandes e pequenos planetas, tal como o Sistema Solar, mas caberia todo no espaço entre o Sol e a Terra.
Terra única
A descoberta destes sistemas exóticos e a ausência de análogos completos do nosso sistema nos dados coletados pelo Kepler fez os cientistas se perguntarem até que ponto a Terra, Vênus, Marte e outros são únicos.
Infelizmente, o Kepler, bem como outros telescópios orbitais, não é capaz de responder a essa pergunta — primeiro, ele pode descobrir novos planetas, mas não logra ver como é que são, se têm vida. Segundo, ainda não é possível para ele calcular quantas "super-Terras" e outros mundos "exóticos" há na galáxia. Pode ser que o aparelho tenha descoberto muito mais e, nesse caso, o Sistema Solar deixará mesmo de ser único.
Por outro lado, uma parte dessas perguntas complexas já foi respondida pela sonda Dawn, primeira estação interplanetária da NASA lançada ao espaço em 2007. Os dados coletados por ela mostraram que os planetas anões eram uma espécie de "embriões" dos planetas que no passado poderiam ter se convertido em "Terras", suas "irmãs mais velhas" ou até planetas-gigantes.
Milhares de tais "fetos" da Terra apareceram nas primeiras etapas da formação do Sistema Solar e outras famílias dos planetas. Seu destino dependia de uma série enorme de parâmetros, inclusive do distanciamento da estrela, composição química e muitos outros fatores.
Via Sputinik
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