sábado, 25 de março de 2017

O mapa que promete acabar com '4 séculos de visão colonialista'


O mapa que promete acabar com '4 séculos de visão colonialista'

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A projeção de Gall-Peters mostra proporção mais real dos continentes
A projeção de Gall-Peters mostra proporção mais real dos continentes


Por mais de 400 anos, escolas de todo o mundo usaram mapas com distorções ​​nos tamanhos dos continentes.
As representações do mundo usadas ​​atualmente são baseadas na projeção feita em 1569 pelo cartógrafo Gerardo Mercator, destinada aos navegadores da época. Seus gráficos respeitam a forma dos continentes, mas não os tamanhos –neles, a Europa e a América do Norte são vistas maiores do que realmente são e o Alasca ocupa mais espaço que o México, embora seja menor.
Um dos erros mais significativos é que a África parece menor do que realmente é, quando na verdade tem o triplo da extensão da América do Norte e é 14 vezes maior do que a Groenlândia.
Mas agora algumas salas de aula de escolas públicas de Boston, no nordeste dos Estados Unidos, começaram a usar o mapa de Gall-Peters, projeção batizada em homenagem a James Gall, escocês aficionado por astronomia que a desenhou pela primeira vez em 1855, e ao historiador alemão Arno Peters, que a difundiu na década de 1970.
Esse mapa mostra o tamanho e a proporção de países, continentes e oceanos com mais precisão. Na semana passada, cerca de 600 escolas públicas da cidade americana receberam cópias dele, noticiou o jornal "The Boston Globe".
Uma das principais mudanças é que a Europa aparece muito menor do que se via antes em comparação com a África, que é muito maior.
CONTINENTES DISTORCIDOS
Uma das razões para as distorções cartográficas é a dificuldade de se projetar uma esfera como a Terra –de três dimensões– em uma superfície plana, de duas dimensões, como a de um mapa.
Mas, para os geógrafos, atrás dos erros de Mercator há também outra razão.
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No mapa de Mercator, a Groenlândia é quase do tamanho da África
No mapa de Mercator, a Groenlândia é quase do tamanho da África
"A maioria dos primeiros mapas do mundo foi criada por europeus do norte", disse Vernon Domingo, professor de geografia da Universidade Estadual de Bridgewater e membro da Aliança Geográfica de Massachusetts, em declaração ao "The Boston Globe".
"Eles tiveram a perspectiva do hemisfério norte –e também uma perspectiva colonialista."
DESCOLONIZAR O CURRÍCULO
A troca de mapas responde ao desejo de Boston de "descolonizar o currículo", disse ao mesmo jornal Colin Rose, superintendente-assistente do Escritório de Oportunidades das Escolas Públicas de Boston.
"Trata-se de mapas, mas, ao mesmo tempo, não se trata de mapas", disse Rose. "Esta é uma mudança de paradigma. Nós tivemos uma visão que era muito eurocêntrica. E como podemos falar de outros pontos de vista? Esse é um excelente ponto de partida."
Para Hayden Frederick-Clarke, diretor de competências culturais das escolas públicas de Boston, o erro mais grave das projeções de Mercator é o tamanho da África.
"Dos nossos alunos, 86% não são brancos e têm pais e avós que são de locais que são mostrados menores nos mapas", disse Frederick-Clarke ao programa The World, da PRI (Public Radio International) e da BBC.
"Queremos que os alunos se vejam de forma adequada e contestem a narrativa de que muitos desses lugares são pequenos e insignificantes no mundo", disse.
"A Groenlândia parece ter o mesmo tamanho da África e dos EUA. Parece de um tamanho comparável, embora sabemos que isso não é uma verdade absoluta. A África é 14 vezes maior do que a Groenlândia. Além disso, no mapa de Mercator, o México é menor que o Alasca, quando na verdade é muito maior", disse o professor.
"Também há problemas com o Brasil. A Europa, mais especificamente a Alemanha, aparecem perto do centro do mapa. E sabemos que isso não é verdade."
"Da minha experiência como instrutor, sei que as pessoas gostam da verdade e que os professores querem apresentar um produto melhor e mais autêntico", disse Frederick-Clarke.
O jornalista da PRI David Leveille diz que os críticos da iniciativa a veem como "mais uma batalha na guerra de culturas" e insistem que "um mapa é apenas um mapa".

Segundo Leveille, eles perguntam: "nenhum mapa é perfeito, então porque se preocupar?". 

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