quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A pedido de um Estudante Sabugiense : O SEMI-ÁRIDO NÃO É TÃO SECO ASSIM COMO FOI RELATADO POR CRONISTAS

A BACIA HIDROGRÁFICA RIO PIANCÓ/PIRANHAS-AÇU
  • Características Físicas
O rio Piranhas-Açu nasce na Serra de Piancó no município de Santa Inês estado da Paraíba e desemboca próximo à cidade de Macau no Rio Grande do Norte. Como a maioria absoluta dos rios do semi-árido nordestino, à exceção do rio São Francisco e do Parnaíba, é um rio intermitente em condições naturais. A perenidade de seu fluxo é assegurada por dois reservatórios de regularização construídos pelo DNOCS: O Coremas - Mãe d’Água, na Paraíba, com capacidade de 1,360 bilhões de m³ e vazão regularizada (Q 95%) de 9,5 m³/s e a barragem Armando Ribeiro Gonçalves (ARG), no Rio Grande do Norte, com 2,400 bilhões de m³ e vazão regularizada de 17,8m³/s (Q 90%) Ao longo do sistema hídrico formado pela calha do rio e seus reservatórios de regularização, denominado Sistema Curema-Açu, desenvolvem-se diversos usos como irrigação difusa, irrigação em perímetros públicos, abastecimento humano, dessedentação animal, lazer, produção energética e aqüicultura.
A bacia hidrográfica do rio Piranhas – Açu (mapa) abrange um território de 42.900 km² distribuído entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, onde vivem aproximadamente 1.552.000 mil habitantes. A bacia está totalmente inserida em  território semi-árido, com precipitações médias variando entre 400 e 800 mm anuais concentradas entre os meses de fev - mai. A concentração das chuvas em poucos meses do ano, conjugada a  geomorfologia da região, caracterizada por solos rasos formados sobre um substrato cristalino, com baixa capacidade de armazenamento, é responsável pelo caráter intermitente dos rios da região. Além disso, o padrão de precipitação tende a apresentar uma forte variabilidade inter anual, ocasionando a alternância entre anos de chuvas regulares e anos de acentuada escassez hídrica, levando à ocorrência de secas hídricas. Por outro lado as taxas de evapotranspiração são bastante elevadas, podendo chegar a mais de 2000 mm/ano, o que ocasiona um déficit hídrico significativo e se constitui em fator chave a ser considerado na operação dos reservatórios da região. 

A formação geológica da maior parte da bacia é Cristalina, isto é, formada por rochas impermeáveis com baixa capacidade de armazenamento de água, a qual freqüentemente é de baixa qualidade. As formações sedimentares, com maior porosidade e, portanto maior capacidade de armazenamento de água, estão presentes apenas em dois pontos da bacia: uma menor, na sub-bacia do rio do Peixe, próximo a Souza-PB e outra, integrante da formação Jandaíra, abrangendo o Baixo - Açu. Outra fonte importante de água subterrânea são os aqüíferos aluviais, que na maioria dos casos, fornecem água de boa qualidade para abastecimento humano, animal e irrigação.

As principais unidades de solo que ocorrem na Bacia são os solos brunos não cálcicos e litólicos, que são solos geralmente com boa fertilidade, porém, são rasos e pedregosos não se adequando à prática da agricultura intensiva.

Os solos mais explorados na agricultura irrigada são os solos aluviais, dispersos em toda bacia, e os vertissolos presentes na bacia do rio do Peixe na Paraíba. Outras unidades de solo dignas de nota são os podzólicos vermelho-amarelos, os latossolos e os cambissolos.
A cobertura vegetal predominante na Bacia é a caatinga hiperxerófila herbáceo-arbustiva. Na parte sul da Bacia, nas proximidades do município de Monte Horebe-PB, em pontos de altitude mais elevada, ocorre a caatinga hipoxerófila, de porte arbóreo.
As espécies mais comuns são: catingueira, baraúna, faveleira, jurema, marmeleiro, pereiro, juazeiro, e cactáceas (xiquexique, mandacaru, facheiro). Nas margens dos rios é comum a ocorrência de caraibeira e oiticica. Já nos aluviões é bastante comum a ocorrência de carnaubeiras que, nas várzeas do Baixo-Açu, chega a formar cocais atualmente ameaçados pela expansão da agricultura irrigada.

A cobertura vegetal da bacia em sua maior parte se encontra bastante antropizada em decorrência da abertura de áreas para exploração agrícola e principalmente pela exploração de lenha como fonte energética para olarias, panificadoras e uso doméstico. Além da perda de biodiversidade, a remoção da vegetação sem critérios de manejo, expõe o solo à ação erosiva das chuvas provocando o transporte de partículas para os corpos hídricos e causando o gradual assoreamento dos reservatórios da região. Por conta desse padrão de ocupação humana a região do Seridó Potiguar, que compreende a parte oriental da bacia, nas proximidades dos municípios de Caicó, tornou-se um dos focos de desertificação presentes no país, demandando ações específicas para reverter o problema.
  • Perfil Socioeconômico
A Bacia abrange, completa ou parcialmente, 147 municípios sendo 102 na Paraíba e 45 no Rio Grande do Norte. Nesses municípios vivem aproximadamente 1.280.000 habitantes, 67% deles na Paraíba. A taxa média de urbanização na bacia fica em torno de 66% e a grande maioria dos municípios (75%) tem menos de 10.000 hab. A maior cidade da Bacia é Patos (88.000 hab.). Outras cidades importantes são Sousa, Cajazeiras e Pombal na Paraíba, e Caicó, Assu e Currais Novos no Rio Grande do Norte. O IDH médio dos municípios da Bacia está em torno de 0,66.
A população urbana da bacia conta com bons índices de atendimento de abastecimento de água, 96% de atendimento na Paraíba e 92% no Rio Grande do Norte, a par de baixos índices de cobertura por redes de coleta de esgotos (2,46% na Paraíba e 13,95% no Rio Grande do Norte. 
A agropecuária é a principal atividade econômica da região, onde se destaca a pequena agricultura de subsistência de feijão, milho consorciado e a pecuária extensiva. O cultivo de algodão arbóreo (“mocó”) já foi uma importante atividade econômica na região, e, ao contrário do algodão comum, era um cultivo perene, resistente à seca, que alimentava um grande número de usina de beneficiamento, e que além de uma fibra de excelente qualidade, tinha como subprodutos óleo vegetal e ração animal (torta de algodão). Era uma fonte de renda segura para o produtor. No final dos anos 80 com a chegada do bicudo, praga de difícil controle nas condições da região e depois com a abertura do mercado nacional às importações subsidiadas de países da Ásia nos anos 90, a cultura, que no início dos anos 80 era plantada em mais de 2 milhões de hectares no Nordeste, entrou em declínio, e hoje a área cultivada está em torno de 1.300 hectares.

A agricultura irrigada foi adotada como estratégia de desenvolvimento regional, pelo governo federal, através do DNOCS, e mais recentemente pelos governos estaduais. Isto resultou num conjunto de perímetros operando com grau de sucesso variável, descritos na tabela abaixo:
  Perímetros irrigados públicos na bacia do Piranhas-Açu

Perímetro
Município
Área
irrigável (ha)
Área implantada (ha)
Várzeas de Souza
Sousa e Aparecida
5.000
1.000
São Gonçalo
Souza
3.046
2.267
Engenheiro Avidos
Cajazeiras
500
100
São Bento
São Bento
147
147
Eng.º Arcoverde
Condado
278
278
Lagoa do Arroz
Cajazeiras,S.João do Rio do Peixe e Santa Helena
980
300
Gravatá
Nova Olinda e Pedra Branca
940
200
Piancó I
Pombal, Coremas, Cajazeirinhas
543
249
Piancó II
Boaventura, Diamante, Ibiara e Itaporanga
1.000
1.000
Piancó III
Itaporanga e Piancó
750
?
Escondido
Belém do Brejo do Cruz
100

Carneiro
Jericó
639
50
Pilões
São João do Rio do Peixe, Poço de José de Moura e Triunfo
250
180
Poço Redondo
Santana de Mangueira e Ibiara
300
?
Projeto Bruscas
Curral Velho
500
?
Conceição I e II
Conceição
1000
?
Santa Inês
Santa Inês
500
?
Capoeira
São José do Bonfim, Patos e Santa Terezinha
170
20
Farinha
Patos
?
?
Baixo - Açu (DIBA)
Ipanguaçu, Alto do Rodrigues e Afonso Bezerra
5.168
2.000
Mendubim
Assu
8000
 Zero
Pataxó

2500

Cruzeta
Cruzeta
196
58
Itans
Caicó
69

Sabugi
Caicó
403
325
Além dessas áreas existe a pequena irrigação difusa praticada às margens dos açudes e vales perenizados, onde se cultiva gêneros alimentícios e pastagens. Mais recentemente na área do Baixo Açu tem havido a expansão da agricultura irrigada em grandes lotes empresariais onde se cultiva principalmente banana, e que tem sido alvo de denuncias por grupos ambientalistas por conta de práticas inadequadas de aplicação de agrotóxicos e descarte de resíduos de tratamento fitossanitários no rio Piranhas-Açu.

A atividade industrial na Bacia compreende a indústria têxtil em São Bento, curtumes, sal, cerâmica e laticínios e a indústria de Petróleo e Gás nas proximidades do Alto do Rodrigues e Macau.

A mineração é explorada principalmente no Seridó dos dois Estados, onde predomina a extração de pegmatitos, scheelita e pedras semipreciosas (água marinha, berilo, turmalinas, etc.)
A Carcinicultura, criação de camarões, é uma atividade que tem teve uma expansão considerável na região do Baixo Açu tornando o Estado do Rio Grande do Norte no maior produtor nacional deste crustáceo. No entanto a atividade é acusada de depredar os mangues e de poluir o Sistema flúvio-marinho com os efluentes da despesca.
  • Sistemas de Águas Superficiais
Historicamente a açudagem foi a principal estratégia adotada pelo poder público para lidar com o problema da Seca. Inicialmente o Poder Central através do DNOCS, e posteriormente os Estados construíram uma rede de armazenamento sem paralelo em nenhuma outra região semi-árida do mundo. 

Na bacia do rio Piranhas-Açu, incluindo os já citados reservatórios Curemas-Mãed’água e Armando Ribeiro Gonçalves, existem 46 reservatórios considerados estratégicos por apresentarem capacidade de armazenamento superior a 10 milhões de m³. Esse caráter estratégico advém do fato de que só a partir dessa capacidade o reservatório pode fazer frente a períodos de estiagem e realizar a passagem entre períodos chuvosos. Abaixo está a relação dos reservatórios estratégicos da bacia.
Reservatório
Município
UF
Capacidade
milhões m³
Catolé I
Manaíra
PB
10,50
Timbaúba
Juru
PB
15,44
Saco
Nova Olinda
PB
97,49
Bruscas
Curral Velho
PB
38,21
Piranhas
Ibiara
PB
25,70
Bom Jesus II
Água Branca
PB
14,17
Jenipapeiro (Buiu)
Olho d'Água
PB
70,76
Queimadas
Santana dos Garrotes
PB
15,63
Cachoeira dos Alves
Itaporanga
PB
10,61
Cachoeira dos Cegos
Catingueira
PB
71,89
Coremas-Mãe D'água
Coremas
PB
1.358,00
Engenheiro Arcoverde
Condado
PB
30,59
São Gonçalo
Sousa
PB
44,60
Capoeira
Mãe d'Água
PB
53,45
Farinha
Patos
PB
25,74
Jatobá I
Patos
PB
17,52
Santa Luzia
Santa Luzia
PB
11,96
São Mamede
São Mamede
PB
15,79
Pataxó
Ipanguaçu
RN
24,37
Eng. Arm. R. Gonçalves
Assú
RN
2.400,00
Mendubim
Assú
RN
76,35
Boqueirão de Parelhas
Parelhas
RN
85,01
Caldeirão de Parelhas
Parelhas
RN
10,00
Esguicho
Ouro Branco
RN
21,57
Carnaíba
São João do Sabugi
RN
25,71
Sabugi
São João do Sabugi
RN
65,33
Várzea Grande
Picuí
PB
21,53
Passagem das Traíras
Jardim do Seridó
RN
48,86
Itans
Caicó
RN
81,75
Marechal Dutra
Acari
RN
40,00
Cruzeta
Cruzeta
RN
35,00
Dourado
Currais Novos
RN
10,32
Rio da Pedra
Santana do Mato
RN
12,43
Beldroega
Paraú
RN
11,37
Carneiro
Jericó
PB
31,29
Riacho dos Cavalos
Riacho dos Cavalos
PB
17,70
Tapera
Belém do Brejo do Cruz
PB
26,42
Baião
São José do Brejo do Cruz
PB
39,23
Escondido
Belém do Brejo do Cruz
PB
16,33
Santa Inês
Santa Inês
PB
26,12
Serra Vermelha I
Conceição
PB
11,80
Condado
Conceição
PB
35,02
Bartolomeu I
Bonito de Santa Fé
PB
17,57
Eng. Avidos
Cajazeiras
PB
255,00
Lagoa do Arroz
Bom Jesus
PB
80,22
Pilões
São João do Rio do Peixe
PB
13,00
Considerando que o potencial de construção de açudes está bem próximo do ponto de esgotamento, além do qual a construção de novos reservatórios, pelo menos do ponto de vista hidrológico, provocaria deseconomias através do aumento de perdas por evaporação, um desafio que se impõe é a otimização do uso da água armazenada, seja através da introdução de rotinas de operação mais racionais, seja pela melhoria técnica dos processos produtivos dos usuários, principalmente irrigantes e concessionárias de abastecimento. 

Outro tipo de problema preocupante, e relativamente recente, é a ocorrência de florações de cianobactérias nos reservatórios da Bacia. Essas bactérias podem produzir toxinas, que não são removidas por métodos de tratamento de água convencionais, e que podem inclusive contaminar peixes tornando-os impróprios ao consumo. Uma provável causa para a ocorrência do problema é o lançamento de esgotos não tratados nos corpos hídricos da Bacia. Considerando que a água acumulada nos reservatórios é a principal, senão a única fonte disponível para abastecimento humano e animal, faz-se necessário uma priorização de investimentos por parte do poder público para saneamento ambiental.    
ANA - Agência Nacional de Águas
Setor Policial, Área 5, Quadra 3, Blocos
Algumas correções na tabela considerando o Vale do Açu feita pelo geólogo Eugênio Fonseca Pimentel membro do Comitê da Bacia HidrOgráfica Piranhas-Açu 

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