quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Estrela da ‘megaestrutura alienígena’ na verdade teria engolido planeta, dizem astrônomos






Finalmente alguém apareceu com uma explicação consistente do que pode estar acontecendo em KIC 8462852, também conhecida como Estrela de Tabby, que ficou famosa no ano retrasado por apresentar sinais compatíveis com a construção paulatina de uma megaestrutura alienígena ao seu redor.



E não, não são alienígenas. Ao que parece, tudo que a estrela fez foi engolir um planeta.

Vamos lá, recordar é viver: tudo começou em outubro de 2015, quando uma análise feita por participantes do projeto de ciência-cidadã Planet Hunters com base em observações realizadas pelo satélite Kepler mostrou que a estrela estava piscando de maneira irregular, por vezes perdendo até 20% do seu brilho por períodos irregulares com duração entre 5 e 80 dias.

Diversas hipóteses foram aventadas, como um evento cataclísmico de colisão como o que deu origem ao sistema Terra-Lua, ou a passagem de um grande cometa, ou talvez um enxame deles, mergulhando na direção da estrela. Em ambos os casos, poderíamos ter um resultado parecido com o observado, mas os cientistas consideravam pouco provável que tivéssemos tido a “sorte” de testemunhar algo incomum assim com uma amostra limitada de estrelas (cerca de 150 mil no campo de visão do Kepler).

A alternativa mais desvairada aventada então era a de que uma civilização pudesse estar construindo em torno da estrela algo como uma esfera de Dyson — uma megaestrutura teorizada pelo físico Freeman Dyson em 1960 para sociedades ultrafamintas por energia. Construída ao redor da estrela, ela seria capaz de recolher a maior parte do suprimento energético da estrela-mãe.

Claro que foi também a hipótese que chamou mais a atenção. E vai que, né? Contudo, e de forma nada inesperada, buscas subsequentes por emissões de rádio ou laser daquela estrela feita pelos grupos de pesquisa SETI (busca por inteligência extraterrestre) deram com os burros n’água.

FICA MAIS ESTRANHO
Em paralelo, pesquisadores foram atrás de imagens de arquivo feitas da estrela por outros projetos astronômicos de pesquisa, o que revelaram mais uma bizarrice associada ao astro: afora as variações mais abruptas de brilho, a estrela de Tabby (batizada em homenagem à americana Tabetha Boyajian, que liderou a descoberta em parceria com os Planet Hunters) vinha paulatinamente reduzindo seu brilho ao longo do último século.

Estudo de chapas de Harvard mostraram que o astro ficou 14% menos brilhante entre 1890 e 1989 e que, mesmo durante a missão original do Kepler, entre 2009 e 2013, ela reduziu seu brilho em outros 3%.

Esse é um fenômeno bem diferente das reduções mais agudas, rápidas e transitórias de brilho e não tem a menor cara de megaestrutura alienígena — é algo que está mesmo acontecendo à estrela em si.

Por outro lado, é improvável que uma estrela de modo geral normal apresente dois comportamentos anômalos e eles não estejam de algum modo contectados.

O que nos traz à solução recém-apresentada por Brian D. Metzger e Nicholas C. Stone, da Universidade Columbia, em Nova York, e Ken J. Shen, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Eles sugerem que um planeta — ou talvez mais de um — pode ter sido despedaçado e engolido pela estrela nos últimos mil anos. O efeito de um episódio catastrófico como esse seria produzir um brilho aumentado da estrela, conforme os destroços mergulhassem para o interior da estrela. Depois disso, ela iria gradualmente perdendo o brilho adicional até voltar ao normal — processo que parece ter sido observado no último século daqui da Terra.

Certo, e os bloqueios abruptos de luminosidade que começaram essa investigação? Eles podem muito bem ser resultado de detritos do processo de destruição do hipotético planeta que restaram em órbita da estrela — talvez até algumas de suas luas. Alternativamente, poderiam ser os cometas já aventados desde o início, mas de algum modo conectados com o mergulho do planeta em seu sol.

O trabalho foi aceito para publicação no “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” e é no momento a melhor ideia para explicar tudo que vimos até agora na Estrela de Tabby. Mas, claro, não é à prova de bala. Ele exige ou que sistemas planetários em estrelas como ela (do tipo F, maior do que o Sol) tipicamente tenham bem mais massa do que suas irmãs menores ou que tenhamos sido vítimas de uma enorme coincidência em flagrar um fenômeno que, em princípio, deve ser extremamente raro. Ou talvez as duas coisas ao mesmo tempos.

Caso encerrado então? Não, claro que não. Os cientistas devem continuar a monitorar o astro nos próximos anos e a observar seu comportamento. Se o trio americano estiver certo, a estrela deve continuar a perder brilho nos próximos anos, até se estabilizar, seguindo um padrão previsível. Da mesma maneira, os episódios de obscurecimento temporário da estrela devem continuar a se repetir e a evoluir, o que ajudará a restringir hipóteses e explicar o caso.

E assim avança o compasso da ciência, palmo a palmo, sem restringir hipóteses por qualquer preconceito que se tenha, mas fazendo todo o possível para corroborá-las ou refutá-las e, assim, chegar cada vez mais perto de uma compreensão mais sofisticada dos fenômenos naturais — ou artificiais, se for o caso. Na Estela de Tabby, pelo visto, a natureza deu conta do recado sozinha, sem qualquer ajuda de uma supercivilização.

Fonte: Mensageiro Sideral | Folha

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