O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o Estado brasileiro foram denunciados na Organização das Nações Unidas (ONU) neste sábado, horas depois da morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, atingida por um disparo de fuzil no Complexo do Alemão.
De acordo com a ONG Justiça Global, dedicada aos direitos humanos, os documentos com o conteúdo da denúncia foram enviados à Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e à Relatoria Especial sobre Execuções Sumárias e Extrajudiciais.
Na noite de sexta-feira, Ágatha foi atingida por um tiro quando estava dentro de uma Kombi na comunidade Fazendinha, que integra o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. Socorrida, ela não resistiu ao ferimento e morreu na madrugada de sábado.
A Polícia Militar do Rio afirmou, em nota, que agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade reagiram em uma troca de tiros. A versão, porém, foi negada por moradores e pelo avó de Ágatha, uma das vozes a culpar a polícia pelo disparo fatal.
Mais tarde, moradores realizaram um protesto pedindo o fim da violência e a responsabilização do autor do tiro que matou a criança. Nas redes sociais, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad chamou Witzel de 'assassino' e defendeu o seu impeachment.
Segundo o blog do jornalista Jamil Chade, assinam ainda a denúncia contra Witzel e o Brasil os movimentos Papo Reto, Fórum Grita Baixada, Instituto Raízes em Movimento, Fórum Social de Manguinhos, Mães de Manguinhos, Movimento Moleque, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e Arquitetxs Faveladxs.
Os movimentos querem que o governo brasileiro e do Rio sejam cobrados pela morte da criança, no que seria mais um episódio de "genocídio" da juventude negra nas comunidades do Rio. Além disso, as organizações afirmam que o assassinato de Ágatha é "consequência direta da política de 'abate'" fomentada por Witzel, com o respaldo da gestão Bolsonaro.
O governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, comemora a morte de um sequestrador na ponte Rio-Niterói no dia 20 de agosto de 2019.
Novo embate com Bachelet
A denúncia de mais uma morte em uma comunidade carente brasileira chega às vésperas do discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, marcado para a próxima terça-feira. E quem deve analisá-lo é Bachelet, ex-presidente do Chile e que foi recentemente atacada pelo mandatário brasileiro – ele elogiou o general e ditador Augusto Pinochet, responsável pelo regime militar que matou o pai da atual comissária da ONU.
Bachelet está a par da violência policial e do que ela chamou de encolhimento dos espaços democráticos no Brasil – foram tais opiniões que geraram a reação virulenta de Bolsonaro.
Com uma média de cinco mortes por dia, a polícia do Rio é conhecida como a mais letal do Brasil, tendo matado 1.534 pessoas no ano passado. Em 2019, sob o governo de Witzel, as mortes em ações policiais vêm batendo recordes, apesar dos homicídios estarem em queda no estado.
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio, de janeiro a agosto deste ano, 1.249 pessoas foram mortes por intervenção de agentes do estado – quase 200 pessoas a mais do que no mesmo período do ano passado –, o que corresponde a um aumento de 16%.
Até o momento, nem Witzel, nem Bolsonaro, ou tampouco o ministro da Justiça, Sergio Moro, se pronunciaram sobre a morte de Ágatha.
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